August 21, 2011

Uma Carta a Ester

Nossas afirmativas são necessárias, minha linda, ao considerarmos a precisão delas. E por falar em precisão, uma das coisas mais interessante de que lembro sobre a suposta escola de Sagres, é o lema: “Navegar é preciso, viver não é preciso.” Fingindo que nosso viver não seja mesmo preciso, gostaria de te convidar a um passeio. Passeio cujo rumo seja incerto e puramente despretensioso.
Neste passeio, é claro, eu gostaria de te fazer compreender a precisão de uma boa companhia. Obviamente quando digo te fazer entender, não quero dizer que você não compreenda; mas fazer-te entender sob minha óptica. É talvez, um desafio que nos aproximaria ainda mais.
Sabe. poucas coisas são necessárias para se ter uma boa precisão no resultado de algum empreendimento realizado por nós. E parece-me razoável a necessidade de um poucochinho de amor. Não muito, mas o bastante! Só o necessário.
É claro que o necessário é suficiente para já estabelecer parâmetros jamais superados em qualquer forma de relação.
Está difícil me compreender? Este é o meu alvo, minha princesa. Fazer-me compreendido por ti.
Lendo o teu texto sobre o milagre da irmandade, imergi em meus nebulosos e herméticos pensamentos a considerar formas padronizadas de relação nesta irmandade miraculosa. Através das quais, todos nós pudéssemos facilmente reconhecer tais milagres.
E por pensar em reconhecimento de milagres, temos por exemplo, os esforços científicos do vaticano a legitimar-los ou, renegar-los.  Eventos vistos de maneira simplista pelo fiel às realizações concretas da Fe abstrata, são ora questionados pelo saber cético da ciência comprovada. Principio que jamais permitirá coadunar a fé com a falta dela.
Pela fé, podemos afirmar que tudo é possível a nós. E por esta mesma, temos experiências cuja possibilidade é impossivelmente racionalizável.  Pela falta dela, a quebra de confiança que somente produz no mais intimo do ser, aquilo que jamais deveria existir no coração do homem. Seja este fiel ou não.
Por certo, aquele que não compreende a razão de viver balizada por parâmetros reais, porem, não comprováveis, se torna incapaz de vivenciar, ou de pelo menos, vislumbrar a possibilidade do impossível acontecer.
Tal credo é certamente o que eu indicaria como indispensável na bagagem. E nesta mesma, ao lado, diria que poderia ser acomodado um pouco de ousadia. Ousadia que traria feitos surpreendentes.
A surpresa a meu ver, não é como possivelmente considerava o ditador do lema da escola de Sagres: VIVER NÃO É PRECISO. Mentira, eu digo. A surpresa não tem o poder de fazer impreciso aquilo que faz a vida bela. E penso que jamais o terá!
Não o tem por vários motivos, dos quais, quero citar apenas um, por considerar ser este, o carro chefe a direcionar tamanha equivocidade na compreensão. O fator que nos faz perceber nossa própria existência é a novidade inimaginável. E esta, quando descoberta junto com uma boa companhia que se torna indelével numa longa jornada, torna a vida ainda mais bela. A novidade abonada casualmente pelo propósito divino produz o inesperado que por sua vez, dá a luz à surpresa.
O que há de mais belo do que pela surpresa, estar aturdido nas próprias expectativas criadas sobre pretexto de uma vida segura? Assim como no mar naquela época e, mesmo para aqueles que utopicamente afirmavam que navegar é preciso, a considerar o destino porem, não avaliando as intempéries da viagem. Uma tempestade, por exemplo, poderia assoprar as velas para um destino diferente do esperado. Não seria também isto uma surpresa para a precisão da navegação? O que faria obviamente que descobrissem novas maneiras e novos mundos dentro de sua própria realidade; dentro de suas “próprias” desconhecidas possibilidades.
A segurança da precisão de saber sobre o destino, não é nada alem de uma prisão com parâmetros sem comparação. Ora, questiono-me, portanto, não seria um paradoxo afirmar que temos um destino cujo caminho, nós não conhecemos? Aquele lema fazia este paradoxo se tornar uma motivação a tal ousadia que disse acima.
Desbravando mar adentro ao desconhecido com propósito de descobrir o encoberto; não é isto também parte da vida? Pois se navegar é mesmo preciso, o viver também o será considerado! Como navegar destituído do viver? Um impossível também possível se assim o crermos.
Para precisão do viver se torna necessário navegar. E talvez, a única impossibilidade ainda não comprovadamente possível é navegar em mar aberto sozinho, sem ao menos a lembrança de alguém especial a nos motivar. Se é preciso a presença para ter força, também o é a lembrança da presença enquanto presente. Pois pela ausência se há de sofrer. E com este mesmo mal, Deus há de punir aqueles que não dão valor a um milagre sublimado pela irmandade que se torna fraterna; que se torna materna; que se torna utópica-real; que se torna sobretudo, a conceição de um novo mundo, com estruturas novas doando formas a algo informe, e não comprovável, como os milagres de sobrevivência a vários naufrágios ou apenas um que concentre em si, a relevância marcante do “existir” preciso.
Para viver um parâmetro incomparável é que convida o paradoxo do navegar preciso, quando a matéria-prima da navegação não o seja. Uma jornada sem rumo e despretensiosa é ao que te convido, minha doce e miraculosa irmã.
A descobrirmos coisas juntos e a fazermos destas descobertas, a historia de desbravadores de lugares nunca dantes palmilhados. Ir aonde ninguém quer ir. E fazer o que ninguém faz. Não pela vaidade de ser diferente ou, pela pretensão de ser melhor sob perspectiva adjacente. Simplesmente precisar o viver do navegar preciso.
Quer vir comigo?
Leonidas S S Valente

A vida secreta das palavras

Hoje eu poderia dizer um tanto de coisas que pensei ser relevante para minha própria vida. Mas a quem interessaria? Quem se dignaria a gastar tempo com aquilo que não somaria algo na sua própria vida? Assim, muitas vezes é como as pessoas lêem o escritor. Palavras carregam consigo um peso grande de contexto e informações que muitas vezes não podem ser ditas por vários motivos.
Ao ler com boa intenção um texto, observa-se que muitas coisas o escritor gostaria de dizer e não foram ditas por qualquer motivo, ora incógnita; não interessa!
Nas entre linhas, uma vida que não se manifesta facilmente. E jamais será descoberta de verdade por aqueles que não possuírem a simplicidade do papel, a cordialidade despudorada e expressiva da caneta, e a objetividade do corretivo. A exigir que se escreva o que seja exato no querer. Alem vontade, perceber que a expressão tem mais importância do que qualquer coisa fora vida. Porque ela é a fala da existência.
A simplicidade do papel como homens faz que os próprios homens se esvaziem de tudo que presumem saber para agregar mais informação. A propósito, bom é falar desta origem como doença perniciosa no seio da sociedade.
Donde nasce a segregação?
Ora, não seria exclusivamente da presunção de saber aquilo que ainda não foi ensinado?!
A respeito de que?
De tudo! Das pessoas, das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, da vida, da existência...
 O que seria daqueles que presumidos, se não tivessem sobre o que presumir? Daí, obviamente nasce o pré conceito! E do pré conceito? A segregação. Todas elas...
E também o leitor sempre é acometido deste mal tão terrível. Que lamentavelmente concorre a classificação de mais cruel em sua compreensão ensimesmada.
A vida secreta nas palavras de tão verdadeira não se rende a mentira imaginaria da compreensão na mente dos doentes. Aqueles cuja doença não faz mais que debilitar a percepção e, por conseguinte a compreensão do que é obvio. Tal obviedade não se deixa tocar por meio de interpretação, mas sim de compreensão humilde como o papel simples que se rende ao cordial despudor expressivo da caneta sujeita somente a objetividade do corretivo que não permite ser dito nada alem do que se intenta dizer. Dando ao leitor doente, as entre linhas em branco para que por eles, possa ser inventado o que eles mesmo gostaria de estar vivendo ou que já estão vivendo e, ou do que estivesse escrito.
Pejorativas contextualizações são mirabolantemente criadas a dar sentido aquilo que esta patente. Mas o que impede de ser visto tal como o é?
A falta da simplicidade do papel.
A simplicidade do papel é tão grande que no menor dos espaços em branco nele, permite ao que lhe possui a capacidade acrescentar idéias a ele. No entanto, é de se compreender a necessidade ética de respeitar o direito preferencial daquele que veio antes. Idéias não se patenteiam. Pessoas orgulhosas totalmente destituídas da importância das próprias idéias é que o fazem. Pensando que elas só beneficiariam a si mesmas.
Leônidas SS Valente