January 15, 2011

O Cristianismo e a Responsabilidade Social


Desde o nascimento da igreja Cristã no primórdio do que chamamos de igreja primitiva, ate os nossos dias se mantém o debate sobre o papel do cristão dentro da sociedade na qual ele esta inserido. Este debate perdeu força durante a idade das trevas, ate mesmo pelo domínio que a igreja católica exercia sobre o conhecimento. Acredito que Jesus como o ponto chave e inicio do cristianismo, foi o primeiro a trazer o assunto como parte crucial para uma vida espiritual, mais na idade media, os interesses políticos de manterem este assunto sem foco.
Bom... O tempo passou, a reforma protestante não só abriu caminho para a liberdade religiosa, como também  para a expansão do conhecimento, como foi o caso do iluminismo Frances. Agora fica um questionamento... em que ponto a reforma religiosa, e o acesso direto a bíblia e a ciência como forma de conhecimento, ajudaram ao cristianismo no que tange a questão social? Pergunta difícil não?  É exatamente sobre isto que iremos falar neste texto.
Jesus é a responsabilidade social.
Um dos textos mais interessantes de Jesus que nos remete a uma questão social é o que foi dito no evangelho de Matheus 25, do versículo 31 ao 46, que diz:
 E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.”
 Neste texto Jesus faz alusão ao juízo final e referencia ao que seria o critério de julgamento ou ponto chave para definição por parte do Rei dos que serão os bodes, ou seja, os cristãos desobedientes, e as ovelhas, ou seja, os cristãos obedientes. Jesus não fala sobre questões ritualísticas ou alguma ornamentação litúrgica incutida na pratica cristã através de nosso culto, como sendo algo importante para a salvação, para a entrada no reino que esta construído deste a fundação do mundo.
Para Jesus importante mesmo era a caridade para os necessitados como sendo ponto chave para a pratica cristã e posteriormente entrada no reino. Jesus é tal categórico em assim dizer pelo que podemos notar neste texto dos evangelhos que ele inclusive afirma que toda a vez que fizermos a um dos “pequeninos”, é como se estivéssemos fazendo a Ele mesmo. Agora fica um questionamento. Se para Jesus como descrito nos evangelhos, o importante era a pratica da caridade é um amor despretensioso para com o irmão, por que então não transformar isto no principio, no ponto chave da pratica cristã?
Acredito que isto não ocorra pela a questão da religião e seus ditames dogmáticos que trazem consigo  a dificuldade de nos libertar dos paradigmas religiosos que foram herdados pela  reformista de sua estrutura original, ou seja, da igreja católica.
Vale lembrar que biblicamente falando, tais liturgias e paradigmas não tem nenhum embasamento em sua grande maioria, são  praticas históricas e não bíblicas com base nos ensinamentos do Nazareno.
A igreja é a responsabilidade social.
Bom , se o cristianismo foi fundado através dos ensinamentos de Jesus, e a igreja foi constituída para ser sua representante,  creio que devemos nos  ater ao que foi dito pelo mesmo sobre o assunto para entendermos o que deve ser feito pela sua representante afim de fazer valer tais ensinamentos.
Agora, quanto dos cristãos que você conhece tem visitado a algum preso? Tem trabalhado em programas sociais que ajunta os que têm fome e sede? Quantos cristãos têm trabalhado com ajuda a estrangeiros, e desabrigados?  E se levarmos mais ao pé da letra o que Jesus disse, quantas cristãos tem encontrado com cristo no olhar do que tem sede e fome, no olhar do estrangeiro, no do preso?
Acredito que a pratica cristã que tem de forma indiscutível no amor sua premicia, perdeu a capacidade de amar de forma objetiva, indo realizando  como dito por cristo para militar no campo da suposta atividade espiritual , que a oração, a pregação de um cristianismo falado mais em sua grande maioria não vivido, ou seja, como diria Tiago uma fé que não é demonstrada através das obras, e conseqüentemente vazia de sentido.
Jesus coloca a responsabilidade social como ponto chave para a salvação, e como ponto para se classificar se alguém pode ser considerado obediente aos seus ensinamentos ou não. Se avaliarmos este texto por esta óptica a responsabilidade social passa a ter papel primordial na inclusão de ambos os indivíduos ao reino do céus,ou seja,  tanto o que recebe a ajuda, tanto daquele que o leva a ajuda.
O movimento cíclico de amor, na ação social.
As ações sem sombra de duvidas são  uma forma poderosa de pregação do evangelho, sendo mais ousado não temo em dizer que talvez seja a forma mais concreta de se demonstrar sua fé, digo concreta, não única.
O interessante é que neste texto tanto o que recebe a boa a ação tanto o que faz , recebe algo de Deus. Ao que recebe, fica o conhecimento de Cristo através de uma igreja que tem como missão diplomática levar a mensagem de Jesus, ou seja, o amor aos que realmente precisam dele, e a igreja que faz tal ação, recebe de Jesus a mensagem de que o que é feito é feito a Ele, sendo assim Jesus se manifesta de forma cíclica, de forma recíproca, levando para o marginalizado  algo novo e renovando com aquele que já conhece seu relacionamento com Deus através do amor em Cristo.
Esta leitura de tal texto,  digamos que renova e faz com que o amor que cremos em Jesus através de um conceito de responsabilidade social de cuidado, de inclusão e não de marginalização poderia manifestar Deus em nossa sociedade e representar assim um doce revolução.

A inclusão – A responsabilidade social de Cristo.
Quando pensamos naqueles citados por Cristo no texto acima, vemos que em nossa sociedade de hoje, e sem duvidas no contexto social de Cristo da mesma forma, se trata daqueles que a sociedade chama de marginalizados, ou seja, os que estão a margem da sociedade.
Jesus em varias oportunidades demonstrou que sua missão era as ovelhas perdidas da casa de Israel, e conseqüentemente os marginalizados. Para Jesus a inclusão de tais pessoas na fé cristã era um ponto chave de sua missão.
Devemos pensar que a inclusão ao contrario da marginalização deve ser um principio, ou seja, ponto chave para a pratica cristã.
Lutar por incluir os que estão presos os que tem fome, os desabrigados,  em uma sociedade que tem como uma de suas características mais marcantes a sua capacidade de estigmatizar e criar padrões de comportamentos pré- estabelecidos, fazendo com que seres humanos, pessoas com total capacidade para o desenvolvimento é a mudança se vejam fadados a uma leitura pré-conceituosa no sentido amplo da palavra, e ponto chave.
Devemos conservar em nosso olhar a esperança e a atitude de lutar por aqueles que estão nesta condição. Claro que digo isto com base no que foi dito no texto em questão.
Se nos conformamos com tal situação, dificilmente lutaremos para a mudança, para a inclusão. Ter um olhar não acostumado com tais questões pode ser fator decisivo para lutar por questões sociais.
Pacto de Lausanne- E a responsabilidade social.
Em 1974 em Lausana, Suiça, foi realizado um grande congresso na intenção de equalizar as vozes da igreja protestante moderna, e neste congresso foi criado o comitê mundial das igrejas evangélicas. Este congresso ficou conhecido como um ponto crucial, momento relevante na qual a o protestantismo se posicionou em mundo relativista, e definiu que ser cristão estava muito alem de seguir ou se apegar a uma serie de doutrinas e sim fazer valer os propósitos e a vontade de Deus.
Neste congresso a questão da responsabilidade social da igreja, foi discutida e foi tocada questões como o pré-conceito, conciliação e justiça:
Veja abaixo a parte do Pacto de Lausanne que fala sobre a responsabilidade social cristã:
“Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.”
Acredito que devemos entender a responsabilidade social, como ponto chave para a igreja moderna, na luta por cumprir parte do seu propósito existencial que a inclusão dos homens em um universo de amor, e justiça.
Acredito que apesar da reforma e de todo o conhecimento, dos pactos e de todas as questões possíveis, ainda assim estamos muito aquém do que realmente foi proposto desde o inicio.
Fico meu desejo que um dia  possamos nos apegar a estas questões a assim lutar para que possamos como representantes de Cristo, levar nosso Deus da melhor forma possível a todos que realmente precisam de um conforto, de amor, de comida, de água, de vestes, enfim... de inclusão.

Thiago Ferreira dos Anjos.
Belo horizonte, 12/01/2011, Brasil.